terça-feira, junho 30, 2009

O Jardim


Assim que o sol raiava pela janela do seu quarto, ele saía, pacífico, para ir contemplar o Jardim. Percorria a grande velocidade o caminho que o separava do velho portão de ferro e quando lá chegava agarrava-se a ele, sonhador, ficando a olhar através das grades para aquela imensidão verde, salpicada de todas as cores, de flores, animada pelo chilrear melódico de todos os pássaros, de todas as formas, com todas as cores. Depois desse momento de pasmo, quase convertido em espasmo, iniciava a sua série de infrutíferas tentativas com o objectivo de transpor o portão. Tentava saltar por cima, mas era demasiado alto; tentava passar por baixo, mas havia apenas uns centímetros; lateralmente, o gradeamento prolongava-se até ao horizonte e, uma por uma, todas as hipóteses de transpor aquele portão iam sendo descartadas. Tentou tudo menos colocar a mão na chave e rodá-la, porque lhe parecia demasiado fácil. Um dia fê-lo, a porta cedeu e ele fechou os olhos, expectante. Deu um passo em frente e com a inspiração profunda abriu-os de novo. Assim ficou, paralisado, largos minutos, boquiaberto, fitando à sua frente tudo quanto desejara tanto tempo! Mas à sua frente via apenas uma velha sucata, cheia de tudo quanto é indesejável: velhas máquinas, aparelhos, carros, tudo num tom negro e absorto numa atmosfera de trevas. Incapaz de acreditar naquilo que via, voltou atrás, fechou o portão e olhou de novo atrás dele. Viu novamente o belo do Jardim dos seus sonhos, só que desta vez, pela primeira vez, podia ver o seu rosto mergulhado nele. Era um espelho! Girou sobre si próprio e viu-se finalmente no Jardim da sua vida, o harmonioso espaço de amor, o espaço ideal para estar, para ser. E viu mais tarde que não estava ali sozinho! Havia muitas outras pessoas que se olhavam e que lhe disseram, seguras, que aquele Jardim era Deus!

quinta-feira, junho 25, 2009

quarta-feira, junho 24, 2009

O que é um ícone?




Um ícone é uma imagem muito simples, bela, expressiva, de cores mutio vivas... e que nos convida à contemplação, ao encontro e ao diálogo interior e espiritual com Deus. Ele é anúncio, caminho e confiança. Digamos: o veículo que nos pode levar a esse mundo maravilhoso da Fonte da Vida, do Ser.
Os orientais ficam diante dos ícones em contemplação, deixando-se impregnar por essa corrente espiritual que eles libertam.
Sabemos que a Bíblia é uma grande parábola do itinerário de Deus com os homens.
Esse itinerário não é regulado pela lei, mas vem descrito com imagens, narrações. São ícones que nos apontam o caminho a seguir.

sexta-feira, junho 19, 2009

Vida

E todo o mundo desaba
Em sorrisos de papel,
Capricho do céu que acaba
Por ser bondoso e cruel.

Cantiga de amor que soa
Na alvura da sua imagem,
Lágrimas que o céu entoa
Algodão da fresca aragem.

Então o arbusto relaxa
E também se faz cobrir
Por aquele manto que encaixa
Sobre as flores que hão-de vir.

Até o horizonte escuro
Pode ver a claridade
Dissolvendo em si o muro
Entre o sonho e a verdade.

Mas pára. Regressa e chuva,
A neve volta a ser rara
E a terra fica viúva
Da noiva que desposara.


É também assim a vida
Cheia de flocos de nada,

Memória sempre sentida

De quando nevou na estrada.


Vai para a neve minha alma

E delicia-te nela,
Que a vida em riste ou calma

Nunca deixa de ser bela
.

"Chocolate Quente"


Conta-se que um grupo de jovens licenciados, todos bem sucedidos nas suas carreiras, decidiram fazer uma visita a um velho professor da faculdade, agora reformado.

Durante a visita, a conversa dos jovens alongou-se em momentos sobre a crise, o imenso "stress" que tinha tomado conta das suas vidas e do seu trabalho. O professor não fez qualquer comentário sobre isso e perguntou se gostariam de tomar uma chávena de chocolate quente.

Todos se mostraram interessados e o professor dirigiu-se à cozinha, de onde regressou depois de alguns minutos, com uma grande chaleira e uma grande quantidade de chávenas, todas diferentes - algumas de fina porcelana, outras de rústico barro, ou simplesmente de vidro ou cristal, umas com aspecto vulgar e outras elegantes, mas caríssimas.

O velho professor disse aos jovens para se servirem à vontade. Quando já todos tinham uma chávena de chocolate quente na mão, disse-lhes:

- Reparem como todos escolheram as chávenas mais bonitas e dispendiosas, deixando ficar as mais vulgares e baratas... Embora isso seja normal, que cada um pretenda para si o melhor,
é isso a origem dos vossos problemas e "stress". A chávena por onde estais a beber não acrescenta nada à qualidade do chocolate quente. Na maioria dos casos é apenas uma chávena mais requintada e algumas nem deixam ver o que estais a beber. O que vós realmente queríeis era o chocolate quente, mas centrastes conscientemente a vossa atenção nas melhores chávenas...

Enquanto todos confirmavam, mais ou menos embaraçados, a observação do professor, este continuou.

- Considerai agora o seguinte: a vida é o chocolate quente; o dinheiro e a posição social são as chávenas. Estas são apenas meios de conter e servir a vida. A chávena que cada um possui não define nem altera a qualidade da vossa vida.


Por vezes ao concentrarmo-nos apenas na chávena, acabamos por nem apreciar o chocolate quente que Deus nos ofereceu.
As pessoas mais felizes nem sempre têm o melhor de tudo, apenas sabem aproveitar ao máximo tudo o que têm. Vivem com simplicidade. Amai generosamente. Ajudai-vos uns aos outros com empenho. Falai com gentileza.



Sobretudo, apreciai o vosso chocolate quente!